Autora

Heloisa Cunha Tonetto
Psicanalista membro da SPPA
Conjecturas sobre o tempo
O tempo nos coloca diante das vulnerabilidades do humano
Como diz Cora Coralina, todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo. Ele nos coloca diante das vulnerabilidades do humano. Será que por isto elegemos marcadores, como calendários, rituais e outros tantos signos oferecidos pela cultura? Se não marcamos a passagem do tempo, não temos ponto de partida e, consequentemente, não temos a noção do finito. O vazio gera o inatingível.
Quando o tempo começa a contar? Hesíodo nos adverte que, para se antepor ao Caos, surgiu a deusa Gaia, que representa algo do confiável, a matriz original, para dar início aos seres e ao amor. A partir daí, o mundo se organiza e o tempo transfigurado oferece uma nova transparência.
Nosso psiquismo também precisa contar com tempo para poder se desenvolver de maneira saudável, com força vital. Para isto, necessitamos dos guardiões familiares que dão amparo, sustentação, colocando-nos no lugar do ser-desejado. Aos olhos dos pais, o bebê precisa ser uma majestade. Esta etapa de semeadura dos vínculos será fundamental para a constituição de um sujeito. O crescimento emocional passa por várias etapas, e cada uma delas possui especificidades que devem ser respeitadas, escutadas e compreendidas.
A Psicanálise tem contribuído com uma parcela importante para o entendimento de nossas diversidades e controvérsias pulsionais. Em muitos momentos, o mundo interno e o externo são atravessados pelo inesperado, como aconteceu recentemente, quando enfrentamos um tempo embaralhado que colocou a humanidade de ponta-cabeça.
Muitos são os interrogantes dentro do humano que Freud, com o seu legado, nos oferece na construção da subjetividade. Em Moisés, ao abordar os marcadores da tradição, latência e repetição, mostra a importância de sabermos de nós. O que se passa na cultura acaba se entrelaçando em nosso psiquismo.
Em seus 60 anos, a SPPA vem seguindo a transmissão da Psicanálise dentro da ótica do plantar, esperar e colher, o que gera sabedoria, transformações e pensamentos capazes de nos movimentar rumo a uma ação cuidadora e produtiva.